"*Estas três páginas sozinhas não formam uma história coerente, mas parece que caíram do diário de alguém.*"
Terça-feira,
Eu e os meninos já estamos andando no Subterrâneo faz uns dias.
Toda noite antes de dormir eu penso em como a vida de andarilho é difícil. Eu sempre julguei mal os indigentes na vila, quem diria que eu mesmo viraria um deles? É, o mundo dá voltas mesmo...
Aquele maldito Fragmentum. Se não fosse por ele, eu não teria que abandonar a minha casa.
Espero que a gente consiga um abrigo para dormir hoje. Longe da vila faz muito frio.
Quarta-feira,
Chegamos na área de mineração da Vila do Rochedo. A princípio o supervisor aqui não foi com a nossa cara, queria que a gente fosse embora, mas por fim ele deixou a gente ficar no poço da mina externa.
Tinha umas pessoas aqui quando a gente chegou, acho que era um outro grupo de indigentes. Tive a sensação de que estávamos sentindo pena uns dos outros.
Esse é o abrigo deles, mas costumava ser um refúgio para os mineradores escaparem de acidentes dentro da mina. Em algum momento, esse poço foi abandonado, então os indigentes se assentaram.
É inquietante ficar onde eu não pertenço, mas a cavalo dado não se olha os dentes. Pelo menos é um abrigo.
Sexta-feira,
É o segundo dia com esse grupo de estranhos. Estou faminto, fraco e incapaz de me juntar ao grupo de mineração. Além disso, as pessoas tendem a discriminar os indigentes, dizendo que somos um problema.
Eu nunca fiz nada duvidoso. No máximo, eu pego lixo para trocar por comida. Por que eles me desprezariam?
Mas tem um cara legal na equipe. O nome dele é Steve, e usa a mesma camisa azul surrada todos os dias. Ele fala comigo, então eu falo com ele. Ele disse que a equipe achou ouro, mas uns arruaceiros quiseram arranjar encrenca, tentando tomar o lugar.
Terça-feira,
Eu não consigo muito apanhando lixo, então comecei a ajudar a equipe de mineração com uns bicos. Afinal, eu sou um artesão, então consigo fazer uns reparos no equipamento deles. De um jeito ou de outro, estou me integrando.
Aquele cara Steve é bem gente boa, ele me deu uns trabalhos e depois começou a me chamar para beber com a equipe.
Acho que da próxima vez eu vou. É questão de sobrevivência, e pelo menos é um avanço.
Eu dei uma olhada no depósito que eles acharam. É impressionante, não me espanta ter gente tentando se apoderar dele.
Quinta-feira, 2 de dezembro
Steve me perguntou se eu quero me juntar à equipe de mineradores, especificamente para fazer manutenção do equipamento. Eu disse que sim, contanto que tenha comida. Ao contrário dos outros, ele cuida de mim, e por isso sou muito grato.
Talvez depois eu consiga economizar um pouco e levar ele para comer numa vila vizinha junto com os caras que viajaram comigo. Ouvi dizer que tem um Grande Hotel Goethe na Vila do Rochedo, e a esposa do dono cozinha muito bem.
Estão dizendo que roubaram o dinheiro de um dos mineradores. Acho que foi a gangue de arruaceiros, mas por causa disso, nos últimos dois dias os mineradores começaram a tratar a gente pior.
Domingo, 5 de dezembro
Eita! Hoje eu acordei com a gangue e a equipe de mineração brigando. É melhor eu continuar me escondendo nesse abrigo.
Parece que a Fogo Vivo tentou acalmar a situação, mas nem eles conseguiram impedir a briga. No fim, um monte de máquinas apareceram para separar os dois lados.
Espero que ninguém tenha se machucado, ainda não tive a chance de pagar um jantar para o Steve. Quando tudo voltar ao normal acho que vou procurar ele.
Sexta-feira,
Já tem dois dias que eu não consigo achar o Steve, parece que ninguém da equipe de mineração sabe dele.
Para onde ele foi? O que aconteceu aquele dia? Dizem que aqueles robôs deveriam proteger os humanos. Ah, não, será que aconteceu alguma coisa ruim com ele?
Segunda-feira,
Acho que o Steve pode não ter ido trabalhar aquele dia.
Agora as coisas mudaram para pior, eu não tenho mais ninguém mesmo. Quando eu finalmente faço um amigo novo, ele desaparece.
Não tem mais nada aqui para mim, acho que vou embora amanhã.
Será que um dia eu vou conseguir encontrar com o Steve de novo?